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Música de Daniel Bernardes

terça-feira, 4 de novembro de 2008

16-11-2007: Artigo de Manuel Leiria (Região de Leiria)














16-11-2007
Dois talentos, um piano, dois destinos


Em comum têm a paixão pelo piano, serem ambos da região e os últimos anos de formação na conceituada École Normale de Musique de Paris. Daniel Bernardes é de Alcobaça, João Ferreira de Leiria. A separá-los está a abordagem diferente ao piano: Daniel foge para o jazz, improvisação e música contemporânea; João prefere o rigor e perfeccionismo dos clássicos. Sexta-feira passada voltaram à cidade que os lançou. Em Leiria, o professor do Orfeão de Leiria, Luís Batalha, detectou-lhes o talento e os incentivou a outros voos. Em Leiria, João Ferreira deu um recital virtuoso no Teatro Miguel Franco; noite dentro, Daniel Bernardes vibrou e fez vibrar o Café-Teatro do Orfeão Velho.
Aos 21 anos, são duas das grandes esperanças do piano nacional. João começou tarde. Aos 11 anos, motivado por uma professora, experimentou piano no Orfeão. Gostou tanto que um par de anos depois colocou de lado a ideia de estudar informática. “O piano mudou completamente a minha vida”, recorda. Da Escola Domingos Sequeira “voava” para o Orfeão, mergulhando no piano. Um vício que fazia os colegas lembrar-lhe que tinha de jogar futebol e divertir-se. Mas o seu prazer estava nas teclas brancas e pretas. Até hoje. “Se não estudo oito horas por dia, sinto-me mal”.
Bem mais cedo, aos cinco anos, em Alcobaça, Daniel Bernardes, sentou-se pela primeira vez ao órgão. “Nem sabia ler”. Chorou para os pais o deixarem ir às aulas. Rapidamente o professor lhe recomendou que prosseguisse a outro nível. No Orfeão de Leiria encontrou Luís Batalha, fundamental no seu percurso. “Foi quem me ensinou a andar na música”.
Aos 13 anos já tocava jazz com os amigos e era como “jogar à bola com os amigos”. Logo aí se manifestava uma inclinação suportada, hoje, pelos clássicos, “um amor tardio” mas que frutificou pela insistência de Luís Batalha. “Convenceu-me a estudar e a ter as bases que tenho. Sem elas era como um atleta querer correr sem pernas”, explica Daniel, o primeiro a “emigrar” para França. “Foi essencial ir. É como estar a jogar na divisão de Honra e passar para a I Liga: um choque completo. Faz-nos crescer imenso enquanto artistas”, admite o pianista.
João Ferreira chegou um ano depois. “Ouvia dizer que havia grandes pianistas. Lá percebi que eram ainda mais do que imaginava”.

Comer ao piano. A mudança de ambos foi facilitada por outros dois leirienses, também ex-formandos de Luís Batalha. “É de facto um grande pedagogo. Não é coincidência estarem lá tantos alunos”, diz João Ferreira, lembrando o importante papel de Sara Marcelino e Humberto Ladeira, ainda a estudar em Paris, na integração.
Depois de dois anos a estudar na École Normale, o percurso dos dois talentos segue caminhos diferentes. “Continuar depende da evolução. Quando achar que já não estou lá a aprender muito mais, vou voltar para Portugal”, admite João Ferreira, que “respira” piano. “Já me chegou a acontecer estar tão obcecado que como enquanto estou ao piano. É um vício [risos]”.
Daniel Bernardes deixou este ano Paris para investir na sua grande tentação: o jazz. Em Setembro de 2008 vai concorrer a uma das oito vagas do curso de jazz no Conservatório de Bruxelas, na Bélgica. “Nunca tive formação em jazz, não sei onde me posso enquadrar a nível escolar. Vamos ver”.
O sonho é chegar ao nível de um Mário Laginha ou do seu “deus”, Keith Jarrett: “Parece que têm duas mãos direitas! Fazem o que for preciso ao piano! Músicos como Laginha, Jarrett ou Brad Mehldau transformaram o piano num instrumento de música erudita”. Mas Daniel tem outras tentações, como a composição ou a música contemporânea. “Não sei como vai ser o futuro. Há muita coisa que me interessa. Se calhar o futuro vai decidir-se por questões económicas ou práticas”.
João Ferreira tem outros ícones: Debussy é o seu compositor de eleição, enquanto ao piano admira, entre outros, Maria João Pires, Michelangeli, Pollini e Richter. Realista, sabe que será difícil fazer vida só dos concertos. “Seria bom sinal conseguir, mas há tantos bons pianistas no mundo... Ainda não desisti, nem penso ‘vou fechar-me ali, criar filhos e engordar’ [risos]”. Contudo, o mais provável será dividir-se entre actuações e aulas.
Sexta-feira, João e Daniel assistiram ao concerto um do outro. “Fiquei agradavelmente surpreendido com detalhes em algumas obras. Nota-se um domínio muito maior a nível de tempos. Tem o programa muito bem dominado física e emocionalmente”, anotou Daniel sobre a actuação no Miguel Franco. A admiração é mútua. João Ferreira também vibrou no Café-Teatro com o recital de Daniel: “Está cada vez melhor, mais maduro, com mais conhecimentos. E a improvisação que faz é tudo talento. É impressionante”.



Elogio a Luís Batalha

João Ferreira e Daniel Bernardes não esquecem o papel do professor Luís Batalha nas suas carreiras. “Foi um segundo pai para mim. É um agente de carreiras completamente desinteressado. Se não fosse ele, provavelmente tinha desistido”, assume Daniel, lembrando Luís Batalha não só como disciplinador mas também como entusiasta do seu talento junto dos pais. “Fez tudo por mim e pelos outros alunos dele que estão em França. Foi uma influência muito grande na minha vida”. Daniel Bernardes assume mesmo ter sido construído enquanto músico “mais por ele do que por mim próprio”. João Ferreira destaca do professor “a excelente pessoa, tanto a nível humano como profissional”.

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